sexta-feira, 6 de abril de 2012

FIM DE NÓS

A gente acaba em mim
que sou eu o fim

Não controlo meu jeito barroco
Não acho medida para abraço oco
Não sirvo e sou pouco

E meu banho ainda é gelado
Meu leito te torna cansado
meu beijo ficou aguado

Não quero mais pagar pra ver
E o que deu pra ser, sabe Deus porquê
Foi na hora errada



(Este texto faz parte do grupo do fins e foi escrito há cerca de 10 meses. Resgatado e finalizado apenas hoje.)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

ELEGIA

Elegia de um dia
para uma alma em fatia

Elegia dos homens mal-amados,
dos alvéolos desmatados

Elegia do meu corpo descascado
dos amantes destratados

Elegia de uma tarde
para um silêncio que alarde

Elegia dos homens cansados,
dos braços atados

Elegia do meu místico revelado
dos meus medos vedados

Elegia pela noite
para uma alma sem acoite

sábado, 24 de março de 2012

PABLO (ou conto erótico da infância)

Quando Pablo escalou o muro, eu tive a impressão de que ia de cabeça. Mas, com as costas já nuas, ele sentou no topo e admirou a vista que era o jardim do vizinho. Uma vista que eu não podia ver debaixo do muro onde estava, mas via mesmo assim dentro da minha cabeça. Era noite e era verão no litoral do país e no país inteiro, Pablo podia sentir no nu e nas costas.

A boca e os dentes iguais aos de Anthony Kiedis fitaram meu cenho engelhado e sorriram juntos. Minha insegurança era marca de nascença ou culpa da minha criação. Esperando seu próximo movimento, eu carregava no rosto e no peito o medo e o receio que sempre carregava quando se tratava de quebrar as regras. Ainda assim, estava ali ao seu lado e reconhecia a beleza de suas travessuras e de sua confiança que, inclusive, me alcançava. As marcas de Pablo, no entanto, surgiam além dos limites e das regras. Surgiam acima dos muros dos nossos vizinhos e ele, tão ciente, me conduzia. Todos saíam ganhando.

Pediu para que sentasse ao seu lado, compulsivamente galante, dominando o paredão com o corpo e estendendo a mão para mim de modo fraterno. O vento cantava seus cabelos. Ele sabia que, para variar, eu não era bom escalador, mas de qualquer forma me puxava para o meio destas experiências, me apresentando pacientemente o seu mundo, o mundo masculino dos homens onde se falava língua que eu não conhecia. A língua que se fala, por exemplo, durante escaladas.

Sentado no muro ao lado de Pablo, a minha língua escutava Pablo falar de vídeos pornôs alemães, proteína, matemática, Miami, peladas, Nintendo, filmes de Hollywood, meninas da praia de Boa Viagem. Muitas outras coisas que não lembro mais, mas que à época soavam tão interessantes. Eu realmente queria conhecer tudo aquilo, aprender a ser aquilo também. Por isso opinava quando podia, enquanto enrolava os dedos nos cachos do meu cabelo sem corte.

O movimento de invadir o jardim foi quase lúdico. Concordamos apenas telepaticamente que deveríamos dominá-lo e, sendo assim, descer do muro foi mais um ato de chegar que de partir. O vento que abaloava minha camiseta agora era retido pelos limites de concreto do jardim. A casa estava vazia provavelmente porque não era mais janeiro. Mesmo assim eu superestimava meu feito e Pablo ia além disso, esgueirando-se entre as janelas, espiando os sons, armado até os dentes de fantasias jamesbondeanas, quando já não éramos mais dois meninos da vida real.

Era a demarcação de terras virgens. Rondamos o perímetro destroçando galhos, machucando folhas, retorcendo arames e cansamos. Foi nessa hora que descobrimos a piscina mais legal de todos os tempos bem ali no terreno do vizinho.

Pablo chutava para longe sua bermuda porque tinha pressa em despir-se ou porque não lhe agradavam as roupas. Junto, eu o observava enquanto tirava minhas próprias que eram mais que as dele. Era impossível negar que nos comparávamos, embora nos esforçássemos para fazer a coisa toda parecer normal.

Não que funcionasse muito bem. Quando Pablo era nu, eu era seu admirador taciturno. Eu era um fiel diante de um sujo desejo e meus óbvios olhos desmentiam tudo que sempre lhe havia conversado. Apesar de que, até aquela noite, Pablo fingia que não sabia ou então achava algum proveito nisso. Até aquele momento quando, de corpo aberto, fiquei ereto.

Nunca chegamos à piscina. Pablo, ineditamente desarmado, gargalhava ao meu encontro, descontruindo a personificação de meu superego. Pulou em minhas costas, me engravatou, me convidou para uma luta que nos espalhou pelo chão. Pablo tinha uma ereção como a minha.

E não fazia mal nenhum se estivéssemos ali. Continuamos amontoados como caímos e conversávamos muito, durante horas pela noite. Éramos finalmente cumplices de nossos próprios limites e nos amávamos. Depois calamos, satisfeitos com a presença um do outro. Calados, nos encarávamos como se fizéssemos uma pergunta e, ao mesmo tempo, déssemos uma resposta.

Enquanto os olhos me olhavam deitado na grama, os cílios de fina lâmina guerreavam para depois casar-se. Eu também adormecia amiúde.

Acordei com a luz do sol atravessando as palmeiras e o barulho do povo da praia. As roupas e os vestígios meus e de Pablo podiam ser vistos em todas as direções que eu mirasse, mas Pablo não. Sozinho, me vesti e escalei o muro de volta para casa. A partir de então, Pablo e eu crescíamos juntos.

sábado, 8 de outubro de 2011

SOBRE O HIATUS DESAVISADO

Olá possíveis leitores do Vênus Hunt,

Em primeiro lugar, gostaria de me desculpar pelos meses sem produção. Eu realmente venho me surpreendendo com a quantidade de pessoas que visitam meu blog e que têm me cobrado sua atualização. É exatamente por isso que me sinto na obrigação de me desculpar e justificar minha ausência.
A verdade é que minha forma de perceber a escrita e até mesmo meu jeito de escrever tem mudado. Além disso, não estou mais certo sobre a função deste blog. Venho me questionando se o amor, sua função e análise merecem mesmo esta página. Sendo assim, ainda pretendo passar certo tempo em hiatus, até que tudo isso fique claro na minha cabeça.
Considero essa fase de introspecção importante pro rumo dos textos, mudando de tema ou não. Certamente voltarei aqui com melhores conteúdos. Caso contrário, no mínimo a necessidade de escrever me trará de volta :)

Por último, gostaria de pedir que os leitores do blog dessem as caras! Adoraria receber sugestões e sempre estou disposto a boas discussões, que na verdade é o que mais sinto falta aqui.
Por favor não esqueçam o VH, só deixem ele de lado um pouquinho. Uma hora eu volto.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

NINGUÉM

Meu corpo ronda o perímetro da cama

Não tem mais ninguém que me ama

Não tem mais ninguém no colchão





E ainda tem chama.

terça-feira, 14 de junho de 2011

VÃO

Libélulas são cegas, borboletas só vivem uma semana e mesmo assim eu insisto em cultivar as coisas mais bonitas de todo o mundo dentro de mim.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

NUA

Olha, os seres humanos podem até ser mamíferos, mas as almas são crustáceos. Eu sei disso porque toda vez que eu vejo você alguma coisa cresce dentro do meu peito e deixa de caber em sua própria casca, fica sensível ao toque. Então fico querendo um lugar dentro de mim onde eu possa me proteger. Um lugar pra me munir de novas roupas antes que você decida deixar minha cama e machucar a única alma que tenho.